III semana do Saltério
O que Deus uniu o homem não separa.
cor verde
XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM
(Verde, Glória, Creio III Semana do Saltério)
Deus nos fez família
Introdução geral
Outubro é o mês das missões. Somos todos discípulos missionários do Senhor a partir da família. Deus criou o homem e a mulher para que reconheçam serem extensão um do outro e vivam na igualdade e mútua complementaridade. O casamento é uma bênção divina. O marido e a esposa assumem o compromisso de se doarem um ao outro, conscientes de que já não são dois, mas uma só carne (I leitura). Jesus, em seu evangelho, ensina os casais a viver o amor em profundidade e não se deixar conduzir por ideologias que permitem e facilitam a separação por qualquer motivo. O amor exige sacrifícios (= fazer o que é sagrado), do mesmo modo que Jesus amou, doando sua vida em favor de todos. Ele abraça e abençoa cada criança, defendendo seus direitos e sua dignidade. Faz-se solidário com cada mulher e homem, levando-os à perfeição (II leitura); pais e filhos são chamados a expressar cotidianamente o amor trinitário, vivendo e promovendo os valores do diálogo, do respeito mútuo, da igualdade e da paz.
Antífona de entrada:
Senhor, tudo está em vosso poder, e ninguém pode resistir à vossa vontade. Vós fizestes todas as coisas: o céu, a terra e tudo o que eles contêm; sois o Deus do universo! (Est 13,9ss)
Oração do dia
Ó Deus eterno e todo-poderoso, que nos concedeis, no vosso imenso amor de Pai, mais do que merecemos e pedimos, derramai sobre nós a vossa misericórdia, perdoando o que nos pesa na consciência e dando-nos mais do que ousamos pedir. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
II. Textos Bíblicos
1° Leitura (Gênesis 2,18-24)
2 18 O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada.”
19 Tendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos, e todas as aves dos céus, levou-os ao homem, para ver como ele os havia de chamar; e todo o nome que o homem pôs aos animais vivos, esse é o seu verdadeiro nome.
20 O homem pôs nomes a todos os animais, a todas as aves dos céus e a todos os animais dos campos; mas não se achava para ele uma ajuda que lhe fosse adequada.
21 Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar.
22 E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem.
23 “Eis agora aqui, disse o homem, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem.”
Palavra do Senhor.
Salmo Responsorial 127(128)
O Senhor te abençoe de Sião cada dia de tua vida.
Feliz és tu se temes o Senhor
e trilhas seus caminhos!
Do trabalho de tuas mãos hás de viver,
serás feliz, tudo irá bem!
A tua esposa é uma videira bem fecunda
no coração da tua casa;
os teus filhos são rebentos de oliveira
ao redor de tua mesa.
Será assim abençoado todo homem
que teme o Senhor.
O Senhor te abençoe de Sião
cada dia de tua vida.
Para que vejas prosperar Jerusalém
e os filhos dos teus filhos.
Ó Senhor, que venha a paz a Israel,
que venha a paz ao vosso povo!
2º Leitura (Hebreus 2,9-11)Leitura da carta aos Hebreus.
2 9 Mas aquele que fora colocado por pouco tempo abaixo dos anjos, Jesus, nós o vemos, por sua Paixão e morte, coroado de glória e de honra. Assim, pela graça de Deus, a sua morte aproveita a todos os homens.
10 Aquele para quem e por quem todas as coisas existem, desejando conduzir à glória numerosos filhos, deliberou elevar à perfeição, pelo sofrimento, o autor da salvação deles,
11 para que santificador e santificados formem um só todo. Por isso, (Jesus) não hesita em chamá-los seus irmãos.
Palavra do Senhor.
Evangelho (Marcos 10,2-16)
Aleluia, aleluia, aleluia.
Se amarmos uns aos outros, Deus em nós há de estar; e o seu amor em nós se aperfeiçoará (1Jo 4,12).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, 10 2 chegaram os fariseus e perguntaram a Jesus, para o pôr à prova, se era permitido ao homem repudiar sua mulher.
3 Ele respondeu-lhes: "Que vos ordenou Moisés?"
4 Eles responderam: "Moisés permitiu escrever carta de divórcio e despedir a mulher."
5 Continuou Jesus: "Foi devido à dureza do vosso coração que ele vos deu essa lei;
6 mas, no princípio da criação, Deus os fez homem e mulher.
7 Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher;
8 e os dois não serão senão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne.
9 Não separe, pois, o homem o que Deus uniu."
10 Em casa, os discípulos fizeram-lhe perguntas sobre o mesmo assunto.
11 E ele disse-lhes: "Quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira.
12 E se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete adultério."
13 Apresentaram-lhe então crianças para que as tocasse; mas os discípulos repreendiam os que as apresentavam.
14 Vendo-o, Jesus indignou-se e disse-lhes: "Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham.
15 Em verdade vos digo: todo o que não receber o Reino de Deus com a mentalidade de uma criança, nele não entrará."
16 Em seguida, ele as abraçou e as abençoou, impondo-lhes as mãos.
Palavra da Salvação.
III. Comentário dos textos bíblicos:
1° Leitura (Gênesis 2,18-24): Homem e mulher, uma só carne
O texto faz parte do segundo relato da criação (Gn 2,4b-25). Reflete sobre a missão que o ser humano recebeu de ser o colaborador de Deus no cultivo do “jardim” ou no cuidado com a natureza, a fim de que ela produza os alimentos necessários para a vida. O humano e a natureza estão intimamente unidos. É do húmus da terra que o humano é modelado. Ele recebe o poder de dar nomes aos outros seres, os animais. Tem a função de cuidar da criação de Deus.
A narrativa aponta para o caminho da realização do ser humano. Não é bom que esteja só. Deus não nos criou para a solidão. Entre todas as criaturas, o homem não encontrou uma “auxiliar” que lhe correspondesse. Enquanto está sozinho, sente-se inferior aos animais. Os autores procuram explicar como foram criados o homem e a mulher, interpretando a realidade que perpassa a existência humana. A linguagem revela que estão inseridos num contexto patriarcal. A palavra “auxiliar” não deve ser interpretada como ajudante submissa. Há igualdade na diferença. É do lado do coração do homem que nasce a mulher. Tornam-se companheiros e extensão um do outro. Revelam-se um ao outro na transparência. Necessitam-se, admiram-se e atraem-se mutuamente, unem-se e formam uma só carne. São duas pessoas livres e conscientes que vivem em comunhão e se realizam mutuamente, sem anular-se em sua individualidade. O “sono profundo” no qual Deus faz cair o homem “é um sinal do mistério que cerca a relação homem-mulher. Um foi criado para o outro e, quando se unem na relação matrimonial, estão obedecendo ao projeto de Deus, que emerge do mais fundo de cada um, a fim de formar uma nova unidade para os dois, para os próprios filhos e para a sociedade” (STORNIOLO, I.; BALANCIN, E. Como ler o livro do Gênesis. São Paulo: Paulus, 1997, p. 17).
Conforme podemos perceber no conjunto desse segundo relato da criação, estabelece-se íntima ligação não só entre homem e mulher, mas também com todas as demais criaturas. A relação de companheirismo e de comunhão entre ambos se estende para a relação com toda a natureza. Os seres humanos, a terra, a água, as árvores, os animais e todas as demais criaturas vieram da mesma fonte e necessitam-se mutuamente. O artífice divino tudo fez com muita arte e criatividade. E tudo entregou ao nosso cuidado.
2º Leitura (Tiago 5,1-6): Jesus se fez nosso irmão
Esse texto da carta aos Hebreus trata da opção solidária de Jesus por toda a humanidade, assumindo o sofrimento e a morte. Paradoxalmente, a honra e a glória de Jesus manifestam-se em sua morte em favor de toda a humanidade. A cruz, então, tornou-se para todos os que creem nele o caminho da vitória sobre toda a maldade, que procura impedir o plano de amor e de salvação de Deus. Ao assumir a condição humana com seus limites e dores, Jesus torna-nos também participantes de sua morte redentora. Ao identificar-se plenamente com o ser humano, possibilitou que este se identificasse com a sua divindade. Por isso, Jesus não se envergonha de nos chamar de irmãos.
A grandiosidade dele manifesta-se em sua radical humildade e obediência ao plano de Deus. É nosso modelo e caminho. Foi assumindo os sofrimentos e a morte, na fidelidade à sua missão, que Jesus nos redimiu e nos levou à perfeição. Como humanos, fazemos a experiência cotidiana dos limites e sofrimentos. Tornando-se um de nós, ele conhece perfeitamente todos os problemas que enfrentamos. Não fomos criados para o sofrimento, e sim para a perfeição e a glória. No seguimento de Jesus, assumimos a realidade de nossa condição humana com a missão a que fomos chamados, deixando-nos conduzir pela graça de Deus, na certeza de seu amor sem limites. Aprendemos a reconhecer a sua vontade e nos esforçamos para ser fiéis. A fidelidade a Deus exige rompimento com as facilidades enganosas que nos desviam do caminho da perfeição. A plena realização somente se dá na obediência a Deus, a qual se concretiza no amor solidário. Na cruz de Jesus, morremos para o egoísmo e passamos a viver na condição divina. Aí reside nossa honra e glória de irmãos de Jesus.
Evangelho (Marcos 9,38-43.45.47-48): A família como expressão do amor
Os fariseus se aproximam de Jesus para pô-lo à prova. Eles pertencem ao grupo de intérpretes da Sagrada Escritura, participantes de escolas rabínicas, onde se debatia sobre os motivos que justificavam o divórcio, uma vez que este era permitido pela Lei judaica. De fato, no livro do Deuteronômio (24,1) lê-se: “Quando um homem tiver tomado uma mulher e consumado o matrimônio, mas esta, logo depois, não encontra mais graça a seus olhos, porque viu nela algo de inconveniente, ele lhe escreverá uma ata de divórcio e a entregará, deixando-a sair de sua casa em liberdade”. Com base nessa orientação, podiam-se encontrar motivos para o divórcio com muita facilidade. Bastava o marido desejar a separação. É somente ele quem pode tomar a iniciativa, pois, segundo a mentalidade dominante, ele exerce domínio sobre a mulher, considerada sua propriedade. Deduz-se daí que tanto no ambiente doméstico como em outros níveis sociais a opressão masculina era exercida com normalidade, legitimada pela interpretação oficial da Lei judaica, a cargo somente de alguns homens, responsáveis também por elaborar essas leis.
Os ensinamentos e a prática de Jesus revelam que a lei deve estar a serviço da vida do ser humano e não o contrário. Para os fariseus, porém, a Lei mosaica devia ser cumprida como condição para o homem ser justo diante de Deus. Jesus não nega a Lei judaica, mas a põe em seu devido lugar: “Foi por causa da dureza dos vossos corações que Moisés escreveu esse mandamento”. O texto da Sagrada Escritura não pode ser retirado de seu contexto. Também não pode ser interpretado de forma fundamentalista. O critério para a verdadeira interpretação é a vida digna sem exclusão, e não os interesses pessoais ou corporativos. Esse grupo de fariseus propositalmente não levava em conta outros textos que permitiam orientações diferentes para a questão do casamento e do divórcio. Jesus, porém, argumenta de outro ponto de vista. Ele resgata o plano inicial do Criador: “Desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher… E os dois serão uma só carne”.
O casamento, portanto, deve basear-se no plano criador de Deus. Ele estabelece a igualdade fundamental entre o homem e a mulher. Nenhuma lei pode contradizer esse desígnio divino. Jesus condena a atitude de dominação do homem sobre a mulher e restabelece o direito igual para ambos de tomar decisões. Os dois se tornam uma só carne e, portanto, “o que Deus uniu o homem não separe”. Em outras palavras: se Deus criou a mulher e o homem com a mesma dignidade e a mesma liberdade, o homem não pode quebrar essa relação que fundamenta o amor verdadeiro entre ambos. Assim, a separação não se dará por qualquer motivo. E se houver motivos sérios para isso, o discernimento e a decisão não podem ser unilaterais.
A sequência da leitura mostra que a casa/comunidade onde se encontram os discípulos de Jesus é o espaço do diálogo e do discernimento. É também o lugar da acolhida, do abraço e da bênção, com prioridade às crianças, as mais afetadas pelas atitudes egoístas ou insensatas dos adultos, representados pelos discípulos que repreendem as crianças. Essa atitude agressiva dos adultos contradiz o modo terno e acolhedor de Jesus, cuja vida é pautada pela não violência, pelo respeito ao outro, pelo perdão… Enfim, Jesus promove o projeto de inclusão familiar e social, de modo que todos usufruam as condições materiais e afetivas para uma vida feliz.
IV. Pistas para reflexão
– Deus não criou o ser humano para a solidão. Homens e mulheres foram criados para viver lado a lado, com a mesma dignidade e igualdade de direitos. Necessitam um do outro. Em nossos dias, a questão de gênero está em debate. O plano original de Deus no que diz respeito à relação entre mulheres e homens ainda não se concretizou. A visão dominante manifesta ainda preconceitos e discriminações relacionados à condição feminina. Prova-se até que a relação histórica de dominação do homem sobre a mulher reflete-se na atitude dele de exploração da natureza e destruição do meio ambiente. Podem-se levantar fatos, atitudes e linguagens que revelam essa visão predominante ainda em nossos dias…
– Somos discípulos missionários do Senhor a partir da família. O casamento é uma instituição divina. Exige séria preparação a fim de que seja assumido com consciência e liberdade. Homem e mulher tornam-se uma só carne: concretiza-se a unidade na diferença. O amor entre marido e mulher é caminho de mútua santificação. Estende-se para os filhos. Jesus corrige a mentalidade farisaica, que permitia a separação por qualquer motivo. Ele resgata o plano original de Deus e restabelece a igualdade de direitos da mulher. É oportuno refletir sobre a importância da família para a vida de cada um de nós e sobre as consequências doloridas e até desastrosas de um ambiente familiar onde reina o machismo, a violência, o desrespeito…
– Jesus fez-se plenamente solidário com o ser humano, assumindo os sofrimentos e a morte. Ele é o nosso irmão maior. Conhece perfeitamente os limites e problemas que enfrentamos em nosso dia a dia. Seguindo Jesus, não desanimamos no caminho da perfeição. Todas as situações, mesmo as difíceis (crises no casamento, separações, doenças, mortes) podem ser assumidas como momentos propícios para acolher a graça de Deus, rico em misericórdia…
V. Sobre as oferendas
Acolhei, ó Deus, nós vos pedimos, o sacrifício que instituístes e, pelos mistérios que celebramos em vossa honra, completai a santificação dos que salvastes. Por Cristo, nosso Senhor.
VI. Antífona da comunhão:
Bom é o Senhor para quem confia nele, para aquele que o procura (Lm 3,25).
VII. Depois da comunhão
Possamos, ó Deus onipotente, saciar-nos do pão celeste e inebriar-nos do vinho sagrado, para que sejamos transformados naquele que agora recebemos. Por Cristo, nosso Senhor.
VIII. Vídeo
VIII. Vídeo
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