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terça-feira, 20 de outubro de 2015

O MANTRA NA MEDITAÇÃO CRISTÃ

Tenho recebido e-mails de algumas pessoas perguntando se podem usar o mantra na oração, na igreja, etc. Atendendo a esse pedido publicamos a seguir uma síntese do artigo de D. Estevão Bettencourt sobre o assunto veiculado na Revista “Pergunte e Responderemos” (Nº 408 – Ano : 1996 – pág. 209).
A propósito recomendamos que se leia o documento “Carta sobre a meditação cristã”, de 15/10/1989, da Sagrada Congregação da Fé. Em vista da tendência de alguns mestres cristãos a adotar métodos e concepções hinduístas de oração, esta Congregação do Vaticano publicou a Carta citada onde analisa a oração cristã em confronto com a oração hinduísta, mostrando as diferenças existentes entre uma e outra. Este documento enfoca: A Oração Cristã à Luz da revelação (nºs. 1-3); Maneiras errôneas de rezar (nºs. 8-12); A Via Cristã para a união com Deus (nºs 13-15); Questões de Método (nºs 16-25); Métodos Psicofísicos e Corporais (nºs 26-28); “Eu sou o Caminho” (nºs 29-31).

Uma vez que esta Carta está disponível no site do Vaticano (www.vatican.va) somente em alemão, apresentamos, no capítulo seguinte, uma síntese mesma publicado na revista PR 392/1995 por D. E. Bettencourt.
O mantra na Igreja
“Em nossos dias certos autores de espiritualidade católicos recomendam exercícios corporais e ritmos respiratórios para favorecer e provocar a oração. Estas técnicas têm origem na espiritualidade hinduísta, que é panteísta, identificando a Divindade e o homem como se este fosse uma centelha divina apoucada pela matéria. Os exercícios corporais hinduístas têm em vista colocar o orante em sintonia com a Divindade existente no mundo inteiro; aperfeiçoariam a união com Deus.
Ora os autores católicos, embora tencionem ficar no âmbito do Cristianismo, se exprimem de tal modo que muitas vezes parecem identificar-se com o pensamento hinduísta; as posturas corporais e a respiração ritmada dariam ao cristão o contato mais íntimo com Deus; colocá-lo-iam em contato com a Fonte do seu ser, que está no mais íntimo do homem; fá-lo-iam sintonizar com Deus como se este fosse uma fonte de energia no sentido da Física moderna. – Daí as sérias restrições que as táticas orientais mereceram da parte da Santa Sé e que conservam seu pleno valor diante de publicações recentes como “Orar com o Corpo”, revista carmelitana” (A revista carmelitana “ORAR” nº 9)”.
“A oração tem dois aspectos:
1) É a procura de Deus por parte da criatura, de modo que supõe a mobilização das faculdades humanas (intelecto, vontade, fantasia, memória …), como aliás é praticada na meditação inaciana, na beruliana, etc. Desta maneira o corpo e a sensibilidade desenvolvem sua atividade quando alguém quer rezar, somos todos psicossomáticos; nenhum ato da nossa pessoa é meramente espiritual ou meramente corporal. Verifica-se que, quando a pessoa está cansada ou com dor de cabeça, pode sentir mais dificuldade para concentrar-se e rezar.
2) Mas a oração é também, e principalmente, ação da graça de Deus no orante. Diz São Paulo: “O Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis, e Aquele que perscruta os corações sabe qual o desejo do Espírito, pois é segundo Deus que ele intercede em favor dos santos” (Rm 8,26s). A oração é um dom ou uma graça de Deus.
“Compreende-se então que os cristãos procurem condições fisicamente sadias para rezar; mas a Tradição cristã, em seu veio central ou pela palavra de seus grandes mestres, jamais apregoou exercícios respiratórios ou posturas físicas como recursos para rezar bem. Pode-se até notar que não poucos Santos procuraram posições incômodas para rezar; ajoelhavam-se sobre pedrinhas ou sobre grãos de milho, procuravam não se encostar em suas cadeiras, usavam cilícios … Estas práticas nada tinham (ou têm) de masoquista, mas derivavam-se da consciência de que a mística é inseparável da ascese; a mortificação corporal acarreta o efeito benefício de amainar as paixões e libertar a mente para que mais facilmente se possa entregar à meditação das realidades transcendentais”.
“Se a oração é a elevação da alma a Deus, suscitada pela graça divina (definição clássica), ela ocorre segundo a espontaneidade do Espírito Santo, ainda que o orante esteja na mais profunda fossa; talvez mesmo em ocasiões de aflição e angústia ela prorrompa mais forte e espontânea. Quem muito valoriza os exercícios corporais para rezar, corre o risco de identificar oração e bem-estar higiênico, ou também o risco de identificar gestos corpóreos e valores éticos espirituais, como se pode depreender de alguns textos extraídos das pp. 26s do referido fascículo”.
“Como se pode ver, as diversas fases da respiração vêm a ser como que a concretização de atividades do orante. Muito mais grave é o que se segue logo após o trecho atrás transcrito:
“Pela respiração entro em harmonia com o cosmo e suas vibrações. Com o ritmo de seu fluxo e refluxo. O sopro que habita em mim, é o alento de Deus: “Javé insuflou em seu nariz um alento de vida e o homem se fez um ser vivente” (Gn 2,7). Nestes momentos conscientizar-me de que possuo esse sopro é vincular-me ao Criador. Esse sopro é seu Espírito que me une com o Pai e o Filho e toda a criação” (p. 27).
“Estes dizeres sugerem nitidamente o panteísmo: o ar que alguém respira vem a ser a vida divina, o alento de Deus, alento de Deus que é identificado com o Espírito Santo; esse ar-Espírito une o orante à Divindade e às criaturas todas. O homem vive não por um princípio vital criado, mas pelo sopro de Deus, que é o Espírito Santo. Nisto há um abuso da linguagem figurada de Gn 2,7; o texto bíblico concebe Deus metaforicamente como um oleiro, que sopra na face do seu boneco de argila; esse soprar tem o caráter metafórico da imagem aplicada; significa a infusão do princípio vital do homem, que não é o Espírito Santo”.
Os mantras
“O vocábulo indiano mantra significa uma palavra ou uma fórmula “impregnada de um poder particular capaz de unificar energias habitualmente dispersas e contrapostas”. Sua eficácia parece estar radicada em dois fatores: “a vibração que penetra as camadas mais profundas e sutis da consciência, e seu significado …” (p. 34). Essa palavra-mantra é repetida com frequência “de modo a mergulhar facilmente o orante nas profundidades do seu psiquismo” (cf. p. 34). O mantra nos proporciona “uma certa experiência sensível – em nível de fé, não sensual – da Presença de Deus no centro do nosso ser” (cf. p. 36). A explanação relativa ao mantra dá a impressão de que a vibração do ar decorrente da repetição da “palavra sagrada” tem um efeito físico: ela “põe o orante em sintonia com Deus” (p. 34), como se Deus fosse uma emissora de ondas e energias, que capto desde que utilize a vibração certa ou adequada para atingi-lo. O mantra tem eficácia física capaz de apreender a Deus como se Deus fosse uma realidade do nosso mundo físico, quantitativo, mensurável. Isto equivale a professar o panteísmo”.
“O panteísmo também parece insinuado pelas expressões “mergulhar nas profundidades do nosso psiquismo, proporcionar uma experiência sensível – … não sensorial – da Presença de Deus no centro do nosso ser”. Dir-se-ia que está subjacente a ideia de que o homem é uma centelha de Deus envolvida pela corporeidade. A fé cristã admite, sim, que Deus habita nos corações puros, mas está longe de professar que Deus pode ser experimentado mediante vibração do ar”.
Fonte: Cléofas

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