A afirmação que Jesus teria sido um líder revolucionário, engajado na luta de libertação de Israel do domínio romano, retorna, através da obra do iraniano Reza Aslam. Causa grande interesse em não especialistas. A tese parece nova, mas não é. Já foi amplamente debatida na cristologia, durante o século 20, através de boas publicações. Foi enfrentada cientificamente pela pesquisa bíblica e rejeitada pelos exegetas. Vale ressaltar, ligados ao método histórico-crítico de interpretação, interessados em buscar a história das relações de Jesus com os partidos hebraicos da época neotestamentária.
Afirmar que Jesus é zelote ao nível dos revoltosos contra o opressor e invasor, descaracteriza a peculiaridade de sua personalidade e de seu projeto. Seria igual aos demais. Daí, a importância de considerá-Lo no que possui de comum com os grupos influentes e partidos religiosos do seu tempo para, no entanto, demonstrar sua diferença e particularidade. Não para nivelá-Lo. Para fazer-Lhe justiça. De fato, o mesmo Jesus, que tem traços comuns a fariseus, saduceus, essênios, os possui em relação aos zelotes. Entretanto, a diferença é maior que qualquer semelhança. Por isso, soa fantasioso e sem base histórica chamar Jesus de fariseu, de saduceu e até mesmo de essênio. Então, por que seria admissível chamá-Lo de zelote, devido apenas a alguns traços apresentados pelos evangelistas, sem considerar os muitos outros em nítida oposição?
Considerando, como se deve, o contexto conflitante do tempo, é razoável afirmar que Jesus, desde sua juventude, conheceu os zelotes e seu movimento religioso e militante de insurreição contra Roma. De modo semelhante, defendia os explorados e criticava os poderosos. É verdade que um de seus discípulos fora zelote. Chamava-se Simão (Lc 6, 15). Só o fato deste ser cognominado de o zelote, dá a entender que os demais não o eram. Mateus, por exemplo, fora publicano. Portanto, diríamos nós hoje, de ideologia contrária. Recolhia impostos para o opressor. Sua profissão o tornara mal visto.
Jesus divergia do movimento zelote em pontos essenciais. Era contra o fanatismo militante gerador de vingança até a morte. Era contra a violência que gera violência. Pregava as bem-aventuranças da paz e da mansidão, o amor aos inimigos e o perdão às ofensas. Contra tais ensinamentos e práticas não há interpretação possível. Constituem a novidade do seu modo de ser e de existir. Portanto, a luta e a “revolução” de Jesus, que geraram conflito até a morte de cruz é de outra ordem. Pouco tem a ver com Roma e seu império. Suscita aversão interna até o ódio entre seus concidadãos, devido a sua pretensão messiânica entre outras, consideradas blasfêmias. Em especial, a liberdade diante da Lei.
No atual retorno à intolerância religiosa, é útil perceber que Jesus é pacifista. Porém, seu pacifismo é comprometido e interessado. Só o zelo apaixonado O aproxima do zelote. Haja vista a expulsão dos vendilhões do templo a chicote (Jo 2, 14-17). Porém, seu amor à paz até à palavra e ao gesto de perdão o faz diferente e alternativo. Por isso, o zelote também o rejeita. Qual o motivo? O ensinamento: “Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão” (Mt 26, 52). Quanto ao tributo dado a César (Mt 22, 15-22), a conhecida frase, não o faz partidário dos zelotes, mesmo que considerássemos como válida a interpretação tendenciosa: “Então devolvei a César a propriedade que pertence a César, e devolvei a Deus a propriedade que pertence a Deus”, ou seja, a Terra Santa. A questão não era só política, simbolizada na terra. Era, sobretudo, religiosa. Por isso, realça a pertença do povo pela eleição e a aliança, no tributo incomparável a ser dado a Deus: a adesão fiel e total.
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