A espiritualidade mariana da Igreja se manifesta na liturgia e na devoção, ambas cheias de amor e de veneração para com a Mãe do Senhor Jesus. A beleza desta espiritualidade se expressa em muitas formas que o catolicismo criou e cultivou em todo tempo de sua vitalidade. Tudo que é feito para Maria, inclusive o destaque dado ao mês de maio para festejá-la, é oferecido também a Jesus, por seu intermédio materno. De fato, louvá-la é sempre honrá-lo.
Nosso culto a Maria provém do Espírito Santo, que é amor divino. Ele nos faz reconhecer tudo que é bom e belo e verdadeiro, segundo Deus Pai em consonância com seu Filho. Habitando em nós, desde o Batismo, faz-nos conhecer a bondade, a beleza e a verdade de Maria em todas as suas perfeições, obra da graça do mesmo Espírito. Do conhecimento, que já é amor, provêm os afetos em louvá-la com veneração, como fez o arcanjo Gabriel ao saudá-la e Isabel, sua prima, ao recebê-la.
Os festejos de maio não se desvinculam do tempo pascal nem se sobrepõem, pois Maria está integrada ao mistério da ressurreição do seu Filho. Ela compreendeu e vivenciou o acontecimento da ressurreição, pela intimidade com o Ressuscitado, e devido ao que ouvia a respeito do túmulo aberto e vazio, e das aparições às mulheres, aos discípulos e apóstolos. Portanto, participou da alegria dos acontecimentos, interior e exteriormente.
Sua tristeza intensa se transformou em alegria transbordante na madrugada do domingo de Páscoa. Semelhante alegria passava e repassava por todos aqueles que viram o Senhor. Divulgara-se como boa notícia de boca em boca: “Vi o Senhor, e ouvi as coisas que ele me disse” (Jo 20,18). Ela viveu este clima jubiloso do tempo pascal, em união com os discípulos e discípulas e os 11 apóstolos.
Embora as Escrituras não digam que Jesus Ressuscitado apareceu a sua Mãe, é possível supor, pois apareceu a vários não nomeados (1Cor 15,5-8). Santo Inácio de Loyola, na quarta semana dos Exercícios Espirituais, põe a primeira contemplação: como Cristo nosso Senhor apareceu a Nossa Senhora, em primeiro lugar. Causa grande ternura na alma meditativa, segundo o método inaciano proposto, contemplá-la. Cria-se e compõe-se a cena com a fantasia subjetiva, porém com a objetividade da fé e do amor. A pessoa que medita pode se pôr na cena como observadora e participante. Soa, para quem medita, que Maria foi merecidamente em sua fé recompensada, ao ser preenchida de júbilo, após as dores da Paixão e ao abandono da morte de Cruz e do sepultamento do seu Filho. Ela ressuscita na alma. Faz a passagem da desolação à consolação, da humilhação à exaltação, com a presença de seu Filho vitorioso. Um dia participaria da glorificação definitiva, assunta aos céus em corpo e alma.
Outra relação de Maria com a Páscoa decorre da assembleia reunida no cenáculo de Jerusalém. Ali, permaneceu junto aos apóstolos e algumas mulheres, reunidos em oração, até o domingo de Pentecostes (At 1,13-14). Cumpria com eles a ordem do Ressuscitado “que não se afastassem de Jerusalém, mas que aguardassem a promessa do Pai” (At 1,4): o Batismo com o Espírito Santo (At 1,5). A Igreja apostólica se reúne e reza com Maria para receber o dom do Espírito Santo, que capacitaria os discípulos à missão, no mundo e no tempo, até a conclusão da história. Ela continua presente na Igreja, também enquanto primeira discípula, empenhada que a obra de seu Filho se expanda, através do nosso apostolado e do nosso testemunho.
Autor: Dom Edson de Castro Homem
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