Com a intenção de lembrar isto aos fiéis, Martinho V abriu pela primeira vez a Porta Santa da Basílica do Latrão como marco inicial do Jubileu de 1423. Somente em 1499 o costume foi estendido à Porta Santa da Basílica de São Pedro, por desejo de Alexandre VI.
Na verdade, os Anos Santos já existiam bem antes de começar o costume de abrir as Portas Santas e em sua passagem, lucrarem-se indulgências. Em 1300, Bonifácio VIII convocou um jubileu pela primeira vez e muitos peregrinos foram à Roma também atraídos pela veneração da famosa relíquia do véu de Verônica. Foi instituída a regra de celebrar-se um jubileu apenas a cada 100 anos. Contudo, em 1350, Clemente VI, exilado em Avinhão, proclamou um até então extraordinário (não tinham se passado 100 anos do primeiro e único) a pedido dos romanos, para amenizar o incômodo pela ausência do Papa na Cidade e ser paralelo ao ano jubilar hebraico celebrado a cada 50 anos. Mesmo com o jubileu proclamado e aberto, o Papa não esteve presente na Cidade Eterna e a peregrinação foi estendida também à Basílica Lateranense, já que até então os peregrinos só visitavam o túmulo de São Pedro. O Cisma do Ocidente, em 1378, quando havia 3 papas contemporaneamente, a sequência foi perturbada. Somente em 1390, Bonifácio IX proclamou um fora do tempo esperado, em atenção ao atraso, e incluiu a Basílica de Santa Maria Maior entre os destinos da peregrinação.
Em 1400, o mesmo Papa declarou um novo jubileu, para respeitar o período de meio século entre cada Ano Santo, e ajuntou à peregrinação as Basílicas de São Lourenço Fora-dos-muros, Santa Maria em Trastevere e Santa Maria Rotonda. Como havia um antipapa em Avinhão, os Reinos espanhol, francês e alguns italianos cederam à heresia, apoiaram o papa ilegítimo e não tomaram parte na peregrinação. Acabado o exílio em Avinhão, Martinho V reduziu a periodicidade para 33 anos, em memória do tempo de vida de Cristo, e proclamou um Ano Santo em 1423. Em 1475, o Jubileu foi nomeado pelo primeira vez como “Ano Santo”, a periodicidade foi reduzida para 25 anos (já tinha havido pessoas que nunca participaram de algum Jubileu devido ao então reduzido tempo de vida) e a invenção da imprensa ajudou a divulgar as primeiras orações requeridas para o lucro das indulgências. Como já dissemos, em 1500 Alexandre VI quis abrir também a Porta Santa da Basílica Vaticana e determinou que esta deveria ser aberta primeiramente e marcar o início dos Jubileus, seguida pela abertura das Portas Santas das outras três Basílicas Maiores.
Duas verdades se aplicam na bela tradição de abrir a Porta Santa e ao passar por ela, lucrar-se indulgências:
1. Que ela representa a Cristo, ao passo que ninguém tem acesso ao Pai senão por Ele, designação feita por Ele mesmo;
2. Ao fato dos peregrinos passarem pela Porta e lucrarem indulgências concedidas para a ocasião, aplicam-se as palavras do Salmista: «Esta é a porta do Senhor; por ela entram apenas os justos» (Sal 118/117, 20). Sim, o lucro das indulgências perdoa as penas temporais às quais estão ligados os pecadores, ao passo que estes buscaram a confissão e a absolvição sacramentos e apagaram os seus pecados – são justos, isto é, têm o céu por prêmio.
A Porta Santa do Vaticano era um simples porta de serviço, ao lado esquerdo da fachada da Basílica. Para ampliá-la e transformá-la em Porta Santa, foi necessário demolir uma capela decorada com mosaicos e que fora dedicada à Mãe de Deus por João VII.
Algumas explicações: a prática de murar a parte interna de uma porta especial começou quando Constantino pediu que Silvestre I publicasse uma bula o perdão dos crimes àqueles que buscassem asilo na Basílica de São Pedro em época previamente estabelecida. Contudo, o privilégio foi grosseiramente abusado e os Papas passaram a ordenar que a tal porta fosse murada em seu lado interno em todas as estações, exceto quando fosse época de graça especial. Pode ser lenda, mas um peregrino florentino conta como viu no Jubileu de 1450 a devoção do povo ao querer levar como relíquias os fragmentos da parede derrubada da Porta Santa. De fato, nos preparativos para a abertura do Ano Santo, o muro era desprendido do resto do prédio, à tríplice batida do Pontífice com o martelo, deixavam-no cair, e vinham os Padres Penitenciários e varriam e lavavam a passagem. Posteriormente, o martelo se tornou objeto de arte e valioso; em 1525 foi feito um com ouro e punho de ébano. Também a espátula, com a qual o Papa dava início ao muramento da Porta, a partir de 1525 passou a ser ricamente decorada. O rito de Burcardo prevê que dois cardeais depositem dois pequenos tijolos de ouro e de prata.
Inicialmente, a Porta Santa de cada uma das Basílicas Maiores era de madeira. Porém, depois foram substituídas por portas de metal: Bento XIV inaugurou a primeira assim na Basílica de São Pedro em 1748. Em 24 dezembro 1949, Pio XII proclamou o Ano Santo e abençoou uma nova Porta, agora de bronze. Encerrados os Anos Jubilares, na parte interna da Porta é construído um muro que, embora dificilmente volte a ocorrer os abusos do tempo do Papa Silvestre I, é uma maneira de indicar que ora não é celebrado qualquer Ano Santo e impedir que a Porta seja violada em tempos não jubilares.
Leia também: Qual é a diferença entre Ano Santo e Jubileu?
Este rito permaneceu inalterado até o jubileu de 1950, pois, no Natal de 1975, Paulo VI já não quis mais usar a espátula e os dois tijolos “cardinalícios” para começar a reconstrução da parede que lacraria a Porta Santa: simplesmente, o Pontífice fechou as portas de bronze e o Ano Santo foi declarado encerrado. Na verdade, a tradição de o Papa derrubar o muro foi manchada pelo incidente de generosos fragmentos terem atingido Paulo VI na abertura do Ano Santo no Natal de 1974.
João Paulo II continuou as modificações no Grande Jubileu do Ano 2000: não derrubou ele mesmo o muro – este já tinha sido removido -, mas abriu a Porta Santa. Mas, muito mais se explica quando nos lembramos que Dom Piero Marini era o Mestre das Celebrações Pontifícias de então. Ele abriu precedentes no ritual de Burcardo. Antes de tudo, o que foi feito para antecipar e, assim, simplificar a solene abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro e das outras Basílicas: o Arcipreste e alguns cônegos de cada Basílica, acompanhados de um cerimoniários papal, rezaram diante da Porta Santa, assistiram à sucessiva demolição da parede, se detiveram em oração diante do Altar Papal e depois foi apresentado ao Papa o conteúdo de cada caixa com as moedas comemorativas do último jubileu. Isto foi o “recognitio” (do latim, reconhecimento) de cada Porta e a comprovação de que ela não tinha sido violada e que o Ano Santo poderia ser aberto.
O papa polonês fez questão de pessoalmente abrir a Porta de cada Basílica. A primeira, por razões de precedência, foi a da Basílica de São Pedro na Noite de Natal de 1999. O Santo Padre foi paramentado com um estranho pluvial do qual a cor não era facilmente reconhecível e a qual não se compreendia para a ocasião. O rito começou no átrio da Basílica e estavam presentes também os Bispos e Cardeais concelebrantes, o decano do Tribunal da Rota Romana, membros do Capítulo de Cônegos e Frades Penitenciários, Chefes de Estado, membros do Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé e do Coro da Capela Musical Pontifícia. Depois de iniciado o rito e proclamado o Evangelho do episódio que Cristo na sinagoga lê o livro do profeta Isaías, o Pontífice caminhou até a Porta e disse “Esta é a porta do Senhor”, ao que responderam todos “Nela os justos entrarão” (Salmo 117, 20).
V. Entrarei na Vossa casa, ó Senhor.
R. Adorar-Vos-ei em Vossa templo santo (Salmo 5, 8).
V. Abri-me as portas da justiça.
R. Entrarei e agradecerei ao Senhor.
João Paulo II empurrou a Porta, dois “sampietrini” terminaram de abri-la e ele se ajoelhou no limiar, enquanto a Basílica era iluminada. O coro então cantou “Cristo ontem, hoje e sempre, princípio e fim. Cristo alfa e ômega. A Ele, a glória nos séculos!”. Nisso, fiéis da Ásia e da Oceania decoraram o contorno da Porta com flores e no piso derramaram fragrâncias, ao som de música oriental (!). Novamente, o Papa se dirigiu à Porta e nela recebeu o Livro dos Evangelhos, apresentou-o a todos e depois o entregou ao diácono, ao que saudaram o som de chifres, como no jubileu bíblico. A procissão ingressou na Basílica ao canto inicial do Coro e no Altar da Confissão foi proclamado o Ano Santo, seguido do canto do Gloria. O Evangelho de Natal foi proclamado em grego e em latim, como (lembraram disto!) rubrica a liturgia papal. A missa continuou como de costume.
A Porta Santa de São João do Latrão foi aberta no dia de Natal; a de Santa Maria Maior, em 1º janeiro 2000 e a de São Paulo Fora-dos-muros, em 18 de janeiro, no início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, com a presença do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla e do Primaz da Comunhão Anglicana, além de representantes do Conselho Mundial de Igrejas.
O Papa concluiu o Jubileu com a simples clausura da Porta Santa de São Pedro em 06 janeiro 2001, Solenidade da Epifania do Senhor. Posteriormente, foram depositadas no muramento seguinte medalhas comemorativas e um pergaminho atestando a abertura e a conclusão do Ano Santo.
Hoje, dia 08 de dezembro de 2016, será aberta a Porta Santa que dará início ao Ano Santo da Misericórdia.
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