Atualmente, falamos e vivemos muito o Natal como uma festa de consumismo, que perdeu o seu sentido religioso, um momento de troca de presentes meramente ritualista. Alertamos que o nosso coração não bate como deveria e que a festa do Natal não é vivida de forma adequada. O consumismo de palavras e de produtos incomoda a muitos e nos dá a impressão de que talvez estejamos vivendo o Natal de maneira inábil.
Paradoxalmente, o aproximarmo-nos da festa do Natal faz emergir algum tipo de esperança escondida sob as cinzas, quem sabe, escondida pelos cansaços e as desilusões. Como gostaríamos que acontecesse alguma coisa, que o mistério do Natal se nos revelasse.
O prólogo do Evangelho de João, que será lido na celebração do dia do Natal, anuncia corajosamente que a Palavra de Deus é luz e vida na história, como tivesse concentrada num ponto (Jo 1, 1-18). E esse ponto é Belém, é Jesus-Emanuel, no mistério de sua vida oculta e infantil, mas que é capaz já de estabelecer “glória nos céus e paz na Terra”!
Portanto, a Palavra de Deus concentrou-se toda num ponto da história, mas não como um retirar-se da história na direção de um episódio que ficou no passado, depois do qual a história não seria senão uma comemoração cada vez mais empalidecida desse acontecimento.
A história lá se concentrou como marco inicial de uma explosão de liberdade, como uma grande deflagração de luminosidade, como um big bang das coisas que dizem respeito à liberdade humana, que a partir de então clareia e ilumina toda a história e se faz contemporânea de todos os tempos, tocando todas as situações humanas e as vivificando.
É preciso aguardar esta grande explosão. Isto é o Advento. Espera do Natal: como um acontecimento que nos atinge de perto. Não somos nós que com um esforço de memória e de imaginação procuramos, com muita devoção, chegar até a manjedoura de Belém, mas é a manjedoura de Belém que nos alcança hoje.
Assim como a energia do sol se faz contemporânea do ser humano todos os dias, iluminando-o de novo, aquecendo-o outra vez, fazendo com que ele se sinta agradecido, esperamos pela celebração do Sol invencível, da Luz sem ocaso que entra na história, na pessoa do Deus-Menino.
O tempo do Advento de 2014 não só inicia um novo ano litúrgico, mas é oportunidade para iniciarmos o Ano da Esperança arquidiocesano. Estamos tendo a oportunidade de renovar a certeza de que a vida cristã é expressa pela fé, pela caridade e pela esperança.
Portanto, não só cremos no Natal, não só o realizamos com nossos atos de caridade natalina, mas, também, o esperamos. Como o novo de Deus que vem ao nosso encontro, um evento surpreendente, não calculado pela inteligência humana.
Que este tempo de Advento seja o tempo de celebrarmos e esperarmos o “futuro imprevisível” de Deus que vem em direção ao nosso presente. E o fundamento dessa espera cristã está na celebração da vinda do Verbo de Deus ao nosso presente, no mistério da sua en-humanação: o Natal.
Possam estas quatro semanas ser tempo de alegre expectativa do “futuro imprevisível” de Deus, o único que verdadeiramente está fora do “presente”, mas que livre e amorosamente vem até ele: ad ventus.
Padre Abimar Oliveira de Moraes
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