“Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Marcos 11,10). É a expressão do povo inchado de alegria à passagem do Rei pobre, montado num jumentinho e entrando na capital do país. Os ramos e mantos foram lançados à sua passagem. Que rei é esse que não tem carruagem nem faz a propaganda de seu reinado?! É um rei diferente. Não é político de algum partido. Ele veio unir e não partir ou dividir. Seu comando não é para súditos interessados em propinas ou benesses. Sua riqueza prometida vale mais. É a riqueza da dignidade humana, do ideal de altivez de caráter, de olhar para o ser humano com a ação do bom samaritano, da ovelha perdida, do pai do filho pródigo, do perdão à pecadora pública, da água prometida à samaritana do poço de Jacó, do perdão aos carrascos lá do alto da cruz...
Esse rei pobre sabe “dizer palavras de conforto à pessoa abatida” (Isaías 50, 4). Ele oferece o próprio corpo para ser batido e não se afasta de quem lhe dá bofetada (Cf. Isaías 50, 8). Vai ao matadouro sem fazer resistência e ainda diz, do alto da cruz: “Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que estão fazendo”(Lucas 23,33). Colocam inscrição na haste superior da cruz, caracterizando que Ele é rei! Quem o julgou e condenou pensava, talvez, que era superior a quem ele estava condenando! Mal sabia que o condenado, se quisesse, poderia aniquilá-lo. Mas o reino de Jesus é justamente o da misericórdia, do perdão, do retorno à condição de justo a toda pessoa que se arrepende e aceita o reinado de Deus.
Ainda bem que Deus não é vingativo nem quer tirar proveito do ser humano. Ele não precisa disso. Mas recompensa a cada um por sua vida e suas ações. Eis a necessidade de aceitarmos o senhorio divino. Com ele nos humanizamos, a ponto de nosso coração ser como verdadeiro ramo de aclamação do domínio do amor de Deus em nós. Tornamo-nos, assim, pessoas livres de todo o egoísmo e apego aos “reis” que nos escravizam, com as “propinas” das ilusões que nos fazem colocar a matéria acima da dignidade humana, da ética, da fraternidade, do ideal de amar e servir o semelhante.
Nossa religiosidade apenas de fachada e consumo social, ou de atos religiosos que nos apresentam como pessoas de fé. Sem o compromisso de colocar em prática os preceitos divinos, ela não representa a verdadeira fé transformadora da vida, em que deixamos os ditames do Filho de Deus nortearem nossa vida. Na forma verdadeira da fé teremos a força necessária para fazermos a sociedade ter o reino do entendimento, do diálogo, da lisura moral, da família constituída com os valores humanos e cristãos, bem como da política de verdadeira promoção do bem comum, a partir da inclusão social dos marginalizados.
Dentro dessa perspectiva e prática de vida, caminhamos confiantes, sabendo que Deus está conosco, como nosso Rei. O profeta traduz bem o ânimo de quem vive assim: “ Não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado” (Isaías 50, 7).
Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Fonte: CNBB
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