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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

TEMPO DE CONVERSÃO

"Vossa verdade me oriente e me conduza..." (CF. Sl 24,5)
Hoje, na “oração coleta”, o sacerdote reúne as intenções da assembleia e as apresenta a Deus com a seguinte oração: Deus eterno e todo-poderoso, dirigi a nossa vida segundo o vosso amor, para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras.
Podemos perceber como esta oração está em harmonia com o Salmo responsorial da liturgia da Palavra de hoje. O sacerdote pede a Deus que Ele “dirija a nossa vida segundo o seu amor” e todos nós clamamos juntos no Salmo, que a “verdade de Deus”, isto é, sua Palavra, nos oriente e nos conduza.
Mais que palavras ditas ao vento, essas são palavras nossas ditas a Deus e devemos estar atentos a ela, porque Deus leva a sério o que dizemos. Não podemos pedir a Ele que venha “dirigir a nossa vida” segundo a “verdade d’Ele”, isto é, segundo a “Palavra d’Ele” que nos é proclamada na Escritura Sagrada, e depois virarmos as costas a esta mesma Palavra, tirando dela, quando muito, os versículos que julgamos agradáveis. É por isso que, na primeira parte da celebração eucarística, a Igreja nos faz estar voltados para a “mesa da Palavra”, o ambão, de onde a “verdade de Deus”, sua Palavra, a única que pode nos conduzir, é proclamada aos nossos ouvidos.

A Palavra de Deus hoje nos fala de conversão. Na primeira leitura ouvimos um trecho do livro do profeta Jonas. Deus dirige, pela segunda vez, sua Palavra ao profeta. Da primeira vez, Jonas ouviu a Palavra do Senhor, mas não a pôs em prática. Ao contrário, procurou fugir para Társis, para o extremo oposto de Nínive. Mas Deus conduziu por seus próprios caminhos o profeta a Nínive e, de novo, dirigiu ao profeta a sua Palavra, ordenando-lhe que anunciasse na cidade que, devido aos seus pecados, ela seria destruída.
Todavia, algo novo aconteceu no coração dos ninivitas e esse “algo novo” revelou ao profeta e a todos nós que lemos as palavras deste livro, a face misericordiosa de Deus. O povo de Nínive, ao invés de zombar ou de fugir da Palavra de YHWH, ele acreditou, teve fé, considerou-a firme e verdadeira (o que vem expresso pelo uso do verbo hebraico’aman, donde provém a palavra amém).
A fé dos ninivitas fez com que eles se convertessem, literalmente, “voltassem” (o que vem expresso pelo verbo hebraico shub) do caminho mal por onde até então tinham seguido. Deus, então, teve “compaixão” e decidiu não fazer mais o mal que tinha decidido fazer e sobre o qual tinha mandado o profeta anunciar ao povo. Foram as manifestas obras de conversão dos ninivitas que tocaram o coração de Deus e fizeram com que Ele agisse com misericórdia para com eles. Um pouco mais ainda no texto, mais precisamente no capítulo 4, podemos ver que Jonas não ficou satisfeito com a atitude de Deus e foi preciso um outro sinal para que o profeta entendesse o amor de Deus pelos homens. A leitura, contudo, chama a nossa atenção para a necessidade de conversão e para a confiança na misericórdia infinita de Deus que nos chama a essa conversão.
É também de conversão que nos fala a Palavra do Evangelho, que é o coração da liturgia da Palavra. A perícope evangélica de hoje nos apresenta o início da pregação de Jesus segundo Marcos, e, logo depois, o chamado dos primeiros discípulos, Simão e André, Tiago e João. Existe um propósito teológico nisso. Marcos quer demonstrar que o verdadeiro discípulo é aquele que é capaz de seguir o chamado à conversão proposto pelo mestre. Se não se segue a palavra do mestre, não se pode ser discípulo.
Mas, como entender a frase de Jesus: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus se aproximou. Convertei-vos e crede no Evangelho (cf. Mc 1,15)”? O tempo se tornou “pleno”, ou seja, atingiu o seu ápice e, em Jesus, o Reino de Deus se tornou próximo de nós. Não podemos esperar mais, mas é necessário seguir o que o mestre ordena, porque são dois imperativos, duas as ordens do mestre: “convertei-vos” e “crede”. Para indicar o chamado à conversão Marcos utiliza o verbo metanoeithe, um verbo grego composto de duas partes: meta (mudança) e nous (pensamento). Não se trata somente de uma mudança de atitudes, meramente exterior, mas trata-se de uma mudança na forma de pensar, a fim de que os atos sejam expressão de uma mentalidade completamente renovada por Cristo.
No entanto, pensamos, como renovar a nossa mentalidade? Por qual forma de pensar nova devemos trocar a nossa forma de pensar antiga e pecadora? A resposta está, ainda, no mesmo v. 15: “crede” no evangelho. Trata-se de uma estrutura muito comumente encontrada no evangelho de Marcos e que chamamos de “paralelismo semítico”. São duas frases justapostas e conectadas pela preposição “e” que querem, na verdade, expressar uma mesma e única realidade: converter-se é crer no Evangelho e crer no Evangelho é converter-se.
Trata-se, aqui, de aceitar fazer uma “transfusão” de pensamentos: substituir pouco a pouco a minha forma de pensar, de julgar, de ver e de agir, por aquela do evangelho, expressão da forma de pensar, de julgar, de ver e de agir do próprio Cristo. A conversão é, diríamos, um processo de “cristificação” contínua do nosso ser.
Meus irmãos Jesus nos dá uma ordem, e essa ordem é para ser obedecida hoje. Como nos recorda Paulo na segunda leitura de hoje “o tempo está abreviado” (cf. 1Cor 7,29). Por isso, não deixemos para amanhã nem só para o início da quaresma a nossa conversão. Comecemos hoje a trabalhar na nossa conversão. Não sabemos se haverá amanhã para nós, pois a nossa vida pode ser colhida ainda hoje. Por isso é necessário urgência em tomarmos a decisão de nos convertermos, de deixarmos que Deus conduza a nossa vida de acordo com a “sua Palavra”, com a “sua verdade” como pedíamos no início desta celebração eucarística.
Que o Senhor nos ajude e que o seu Espírito de amor dê ao nosso coração força para não retardar mais essa que é uma urgência espiritual para nós: a nossa conversão.
Autor: Padre Fábio Siqueira

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